terça-feira, 30 de outubro de 2007

Hábito

Tenho o hábito de julgar as pessoas
Pelos seus actos, não plo que dizem,
Palavras são palavras, e leva-as o vento.
Os actos são mais difíceis que as palavras,
E podem ser analisados objectivamente,
Portanto, baseados em factos concretos.
As palavras brotam dum cérebro pensante
Que os desmentem, por vezes, nos actos praticados,
E por isso têm que ser analisados subjectivamente.

Assim:

Eu tenho a péssima mania
De não ouvir palavras, mas factos.
Tenho das palavras, fobia,
E a monomania dos actos.

Lisboa, 15-4-85
Santos Almada





Se leres bem, faz sentido.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.


I O Guardador de Rebanhos - Alberto Caeiro

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

É tão bom dormir pouco, dormir mal, não dormir.
Refilar com alguém, ouvir alguém refilar, e nem sequer no final, mas no meio disso desatar a rir da situação.
É tão bom saber que alquela pessoa tem tantas qualidades como defeitos, mas que é indispensável, e que as qualidades de toda a gente juntas são tão importantes como a junção de todos os defeitos.
É tão bom andar, andar e andar, sem fôlego, sem muito mais energia, mas com uma força comum que parece inesgotável.
Tão bom chegar ao objectivo, contemplá-lo.
Tão bom ser uma equipa e ser um grupo que ainda tem muito para andar.
É tão bom ver todos aqueles olhares.

O escutismo não é perfeito, tem os seus defeitos, mas vai-te ajudar.
(Diz uma música, não propriamente isto, troquei 'cne' por 'escutismo'.)

E não me imagino sem os defeitos e qualidades do escutismo. (Felizmente.)
Tinha saudades de tudo aquilo (inclusive a posterior dificuldade de movimentos x).





Escolhi pôr isto em primeiro lugar porque...
Porque aos poucos temos de encontrar prioridades, e se isto parece fazer-me melhor...
Fazes muito mais do que o Sol.
(Quando queres.)



Mas o Sol não é teu (ponto).
Vai-se conhecendo as pessoas aos poucos, ou então aos poucos vamos vivendo coisas que nos permitem entender melhor outras coisas. Sabemos disso.
Se antes pensava que eu complicada algumas coisas, agora sei que toda a gente complica alguma coisa, por mais simples que essa complicação seja.
Não percebo muito bem qual é a peça que ainda está a faltar, talvez seja o facto de complicarmos demasiado a vida.
Não é uma máscara básica que vai cobrir isso, descansa.

domingo, 14 de outubro de 2007

Há dias... (II)

Há dias que gosto de estar sozinho,
De não ver ninguém, não ouvir ninguém.
Hoje é um desses dias.
Tudo o que me rodeia é cinzento.
Talvez do dia ser de cinza,
Talvez do meu estado de alma.
Sinto-me só, sem ninguém
E falo com tanta gente todos os dias.
Às vezes pedem-me um poema.
Eu faço-o como sei, como o sinto
(Toda a gente faz como sabe, é óbvio).
As pessoas hoje em dia
(Salvo raríssimas excepções)
Só sabem receber, não sabem dar,
E sabe tão bem uma palavra tão simples!
Hoje estou nos meus dias cinzentos.
Triste, só, falando com muita gente.
Não me digam nada, que eu não oiço ninguém!

Deixem-me gozar tristemente a minha tristeza.

Santos Almada - Abril de 87







Mas os Amigos são para isso.
Para nos obrigarem a partilhar alegremente o gozo da própria tristeza.
Os Amigos e as Concertadas, (mesmo que concertadazinhas).

E depois as coisas parecem menos cinzentas.
E até se ganha um sorriso, e se realiza a sorte Enorme que se tem, e os minúsculos problemas que se criam.

sábado, 13 de outubro de 2007

Lado a Lado





'Nem sei qual é de nós mais desgraçado.'






'O que foi que se passou?'

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Não deves ceder ao infortúnio, meu filho. A dúvida e a tristeza são muitas vezes um casamento com deuses do mundo monárdico. Deixa que o Destino disponha de ti; os Deuses não são sábios num sentido mais divino, mas são regulados pelo Destino mais sábio que subjaz a todas as coisas. Não és mais sábio do que muitos homens fracos. Não és mais fraco do que muitos homens sábios. És apenas uma criança, como são todos, nas invisíveis mãos orientadoras do Grande Amante da Matéria Monádica. Romance do subconsciente é disparate. Romance do Mais do que Consciente, se quiseres.
O homem não é mais débil do que os próprios deuses; é apenas mais pequeno em matéria. É perdoado através da matéria física, pela redenção do Fogo e da Água, no Casamento dos dois triângulos, assim: [símbolo]
Isto não tem nenhum sentido, a não ser que seja «olhado» desde o outro lado. Tens de aguardar e ter esperança.
A tua presente tristeza e dúvida é a soma sob as árvores do jardim, nem sequer a nuvem que passa na frente do Sol. O Sol Eterno não tem nuvens, salvo os nossos olhos estarem fechados para ele.
Tu és um homem já monadicamente casado. Casado com a Margaret Mansel - não com a Margaret Mansel no estado somático, mas com ela no super-estado monárdico. Não tornes uma coisa boa numa coisa má duvidando dela. Estás mesmo à beira. Espera.


Fernando Pessoa - Um texto de Prosa Íntima






O Pessoa acalma a alma. Amansa o espírito.
Por momentos esqueço-me do que quero esquecer.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

(Im)Perfeições à parte.
Aviso desde já que este texto se dedica inteiramente à felicidade de ser pelo menos como se é.
E faz-se desde já reparar na diferença entre perfeccionismo e egocêntrico pretenciosismo a perfeição. (É que a diferença é bastante larga e, pela distância de percurso, não é alcançada por todas as almas.)
A perfeição terrena talvez não exista. (Não acredito minimamente na última frase.)
Duvidar da penúltima premissa é humano, e decerto não implica acreditar que se é perfeito e/ou capaz de criar em perfeição.
Conversas sem credibilidade, essas sim nunca (mas nunca mesmo), serão perfeitas.
Coisas humanas... O ser humano não pode ser perfeito. O que não implica a existência ou não da perfeição.
As tais almas entendem? Será?
Passando à parte anunciada no início, esta é a parte onde as almas que não alcançam a diferença que segue o anúncio não se sentirão particularmente afectadas, (porque são as tais almas).
Para um reforçar de autoestima, no mínimo, é excelente uma conversa com as tais almas.
Passa-se a gostar até dos próprios defeitos, a sério.
'Ninguém é perfeito.' Sabias, oh tal alminha?
E eu gosto tanto de ser a tua 'dor no pescoço', para não traduzir a verdadeira expressão britânica.
Oh alminha, tens piada, mas nem tanta. Arrepias, mas num mau sentido, naquele do nojento.
Mas tem calma, não tens grande efeito para além do arrepio.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Penso em ti no silêncio da noite, quando tudo é nada,
E os ruídos que há no silêncio fazem o próprio silêncio,
Então, sozinho de mim, passageiro parado
De uma viagem em Deus, inutilmente penso em ti.

Todo o passado, em que foste um momento eterno,
É como este silêncio de tudo.
Todo o perdido, em que foste o que mais perdi,
É como estes ruídos,
Todo o inútil, em que foste o que não houvera de ser
É como o nada por ser neste silêncio nocturno.

Tenho visto morrer, ou ouvido que morreram,
Quantos amei ou conheci,
Tenho visto não saber mais nada deles de tantos que foram
Comigo, e pouco importa se foi um homem ou uma conversa,
Ou um parvo omitido do mundo,
E o mundo hoje para mim é um cemitério de noite
Branco e negro de campas e árvores e de luar alheio
E é neste sossego absurdo de mim e de tudo que penso em ti.

Álvaro de Campos - Primavera de 1933











Se o tempo passa, sou suposta aprender alguma coisa com o girar dos ponteiros do relógio. Se realmente aprendo ou não, quem sabe?
Mas o girar particular destes ponteiros têm-me feito... a palavra não é entender, mas digamos que... têm-me feito (pensar) ver que nesta particularidade não posso, nem podes, exigir. (Ainda pensei e tentei especificar alguma coisa, mas é realmente difícil, e talvez a realidade é que não se podem fazer exigências, ponto.)

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

IN CASE OF FIRE

They had finally some to grips
And the pieces somehow fit
Could it be?
Yet something's lingering
“What is it?”

At first she had her eyes down staring at the floor
Uncertain, she lifted them to find the words
Shouting from the wall
Like a devil on her shoulder reading…

In case of fire, leave the area immediately
Avoid it, yourself from any more grief
In case of fire leave the area immediately
Avoid it, disappear but please don't jeopardize

“What is it? It's wearing me out asking this!” he said
“I refuse to be left in the dark
I've been ringing out every last drop
Ringing out everything I am
It's out for you
Everything I am
There's no disguise
Would you just trust me this time?”

He always swore it was…
Swearing unconditional
And she's ready to call it off

“What is it? I'm getting so scared asking this.”

Comeback Kid







Sem nenhum significado em especial (a música) acredita, soa bem.