sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Não deves ceder ao infortúnio, meu filho. A dúvida e a tristeza são muitas vezes um casamento com deuses do mundo monárdico. Deixa que o Destino disponha de ti; os Deuses não são sábios num sentido mais divino, mas são regulados pelo Destino mais sábio que subjaz a todas as coisas. Não és mais sábio do que muitos homens fracos. Não és mais fraco do que muitos homens sábios. És apenas uma criança, como são todos, nas invisíveis mãos orientadoras do Grande Amante da Matéria Monádica. Romance do subconsciente é disparate. Romance do Mais do que Consciente, se quiseres.
O homem não é mais débil do que os próprios deuses; é apenas mais pequeno em matéria. É perdoado através da matéria física, pela redenção do Fogo e da Água, no Casamento dos dois triângulos, assim: [símbolo]
Isto não tem nenhum sentido, a não ser que seja «olhado» desde o outro lado. Tens de aguardar e ter esperança.
A tua presente tristeza e dúvida é a soma sob as árvores do jardim, nem sequer a nuvem que passa na frente do Sol. O Sol Eterno não tem nuvens, salvo os nossos olhos estarem fechados para ele.
Tu és um homem já monadicamente casado. Casado com a Margaret Mansel - não com a Margaret Mansel no estado somático, mas com ela no super-estado monárdico. Não tornes uma coisa boa numa coisa má duvidando dela. Estás mesmo à beira. Espera.


Fernando Pessoa - Um texto de Prosa Íntima






O Pessoa acalma a alma. Amansa o espírito.
Por momentos esqueço-me do que quero esquecer.