terça-feira, 29 de agosto de 2006

Seja O Que For.

Seja o que for que esteja no centro do Mundo,
Deu-me o mundo exterior por exemplo de Realidade,
E quando digo "isto é real", mesmo de um sentimento,
Vejo-o sem querer em um espaço qualquer exterior,
Vejo-o com uma visão qualquer fora e alheio a mim.

Ser real quer dizer não estar dentro de mim.
Da minha pessoa de dentro não tenho noção de realidade.
Sei que o mundo existe, mas não sei se existo.
Estou mais certo da existência da minha casa branca
Do que da existência interior do dono da casa branca.
Creio mais no meu corpo do que na minha alma,
Porque o meu corpo apresenta-se no meio da realidade.
Podendo ser visto por outros,
Podendo tocar em outros,
Podendo sentar-se e estar de pé,
Mas a minha alma só pode ser definida por termos de fora.
Existe para mim — nos momentos em que julgo que efetivamente existe —
Por um empréstimo da realidade exterior do Mundo

Se a alma é mais real
Que o mundo exterior como tu, filósofos, dizes,
Para que é que o mundo exterior me foi dado como tipo da realidade"

Se é mais certo eu sentir
Do que existir a cousa que sinto —
Para que sinto
E para que surge essa cousa independentemente de mim
Sem precisar de mim para existir,
E eu sempre ligado a mim-próprio, sempre pessoal e intransmissível?
Para que me movo com os outros
Em um mundo em que nos entendemos e onde coincidimos
Se por acaso esse mundo é o erro e eu é que estou certo?
Se o Mundo é um erro, é um erro de toda a gente.
E cada um de nós é o erro de cada um de nós apenas.
Cousa por cousa, o Mundo é mais certo.

Mas por que me interrogo, senão porque estou doente?
Nos dias certos; nos dias exteriores da minha vida,
Nos meus dias de perfeita lucidez natural,
Sinto sem sentir que sinto,
Vejo sem saber que vejo,
E nunca o Universo é tão real como então,
Nunca o Universo está (não é perto ou longe de mim.
Mas) tão sublimemente não-meu.

Quando digo "é evidente", quero acaso dizer "só eu é que o vejo"?
Quando digo "é verdade", quero acaso dizer "é minha opinião"?
Quando digo "ali está", quero acaso dizer "não está ali"?
E se isto é assim na vida, por que será diferente na filosofia?
Vivemos antes de filosofar, existimos antes de o sabermos,
E o primeiro fato merece ao menos a precedência e o culto.

Sim, antes de sermos interior somos exterior.
Por isso somos exterior essencialmente.

Dizes, filósofo doente, filósofo enfim, que isto é materialismo.
Mas isto como pode ser materialismo, se materialismo é uma filosofia,
Se uma filosofia seria, pelo menos sendo minha, uma filosofia minha,
E isto nem sequer é meu, nem sequer sou eu?

Alberto Caeiro







/ tudo dito

sábado, 26 de agosto de 2006

3 Desejos.

Apetece uma mudança, novas cores.

Apetece sorrisos, não o meu.

Apetece aprender a ver o essencial, invisível aos olhos.

Apetece rir do mundo, correctamente, das pessoas.

Apetece estar lá, reviver o pôr-do-sol.

Apetece nascer, voltar aos 90's.

Apetece ser mais simples, mudar alguns feitios.

Apeteces.

terça-feira, 15 de agosto de 2006

Se Pensar Bem.

" Não digas nada,
Deixa esquecer. "

(excerto de Fernando Pessoa... poema sem título)




Se pensar bem, estes momentos são tão vulgares!
Náusea só de pensar. Desilusão acima de tudo. Acima do orgulho de Homem que quer ser dono do Olímpo, acima da frustração e desespero de quem, como simples mortal, existe. Mas abaixo do verdadeiro sentimento, comum, vulgar, barato! Barato na facilidade.
Estes momentos... São milenares, intemporais quem saberá?
São estes momentos, com os quais não criamos muita afinidade, que não se apresentam, que não se justificam, que não avisam o quando da sua retirada; que atormentam qualquer consciência, destroem castelos de cartas ou até aqueles mais planeados, de tijolo.
Quem sabe se até os deuses os têm? A estes momentos.
Ou se qualquer essência os terá. Porque não terá uma árvore direito a estes momentos?
Afinal, sem momentos destes, não há justiça no viver! Que direito a mais terá este ser complicado e egoísta? Que semi-deus se pensa, e que de semi-deus julga ser o actor principal.

São estes momentos vulgares, mas pessoais e intransmissíveis, que criam, destroem, e fazem o mundo girar.

domingo, 13 de agosto de 2006

Mas.

" Intangível. É a palavra. Às vezes parecemos dominar o mundo, intocáveis. Mas basta um olhar, o cruzar de duas almas, e tudo desmorona. O castelo que antes julgava ser um forte, lugar seguro para todas as inseguranças, cai como se da mais fina areia fosse feito.
----E o ser assusta-se. A existência interroga-se. Tudo o que antes julgava meu, o que me era certo e inabalável, passa a ser dele. Do olhar que cruzou o meu.
----Perde-se a base, voa-se. Mas com a base vai o amparo. As quedas são maiores, e os golpes são profundos e crueis.
----É um estado quase divino. Uma graça imperdoável, mas saborosa. "

(rascunho não terminado.. como quase tudo meu)











Existes?