segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Penso em ti no silêncio da noite, quando tudo é nada,
E os ruídos que há no silêncio fazem o próprio silêncio,
Então, sozinho de mim, passageiro parado
De uma viagem em Deus, inutilmente penso em ti.

Todo o passado, em que foste um momento eterno,
É como este silêncio de tudo.
Todo o perdido, em que foste o que mais perdi,
É como estes ruídos,
Todo o inútil, em que foste o que não houvera de ser
É como o nada por ser neste silêncio nocturno.

Tenho visto morrer, ou ouvido que morreram,
Quantos amei ou conheci,
Tenho visto não saber mais nada deles de tantos que foram
Comigo, e pouco importa se foi um homem ou uma conversa,
Ou um parvo omitido do mundo,
E o mundo hoje para mim é um cemitério de noite
Branco e negro de campas e árvores e de luar alheio
E é neste sossego absurdo de mim e de tudo que penso em ti.

Álvaro de Campos - Primavera de 1933











Se o tempo passa, sou suposta aprender alguma coisa com o girar dos ponteiros do relógio. Se realmente aprendo ou não, quem sabe?
Mas o girar particular destes ponteiros têm-me feito... a palavra não é entender, mas digamos que... têm-me feito (pensar) ver que nesta particularidade não posso, nem podes, exigir. (Ainda pensei e tentei especificar alguma coisa, mas é realmente difícil, e talvez a realidade é que não se podem fazer exigências, ponto.)