quinta-feira, 10 de abril de 2008

«Desculpem se trago hoje à baila a história da professora agredida pela aluna, numa escola do Porto, um caso de que já toda a gente falou, mas estive longe da civilização por uns dias e, diante de tudo o que agora vi e ouvi (sim, também vi o vídeo), palavra que a única coisa que acho verdadeiramente espantosa é o espanto das pessoas.

Só quem não tem entrado numa escola nestes últimos anos, só quem não contacta com gente desta idade, só quem não anda nas ruas nem nos transportes públicos, só quem nunca viu os 'Morangos com açúcar', só quem tem andado completamente cego (e surdo) de todo é que pode ter ficado surpreendido.

Se isto fosse o caso isolado de uma aluna que tivesse ultrapassado todos os limites e agredido uma professora pelo mais fútil dos motivos - bem estaríamos nós! Haveria um culpado, haveria um castigo, e o caso arrumava-se.

Mas casos destes existem pelas escolas do país inteiro. (Só mesmo a sr.ª ministra - que não entra numa escola sem avisar - é que tem coragem de afirmar que não existe violência nas escolas).

Este caso só é mais importante do que outros porque apareceu em vídeo, e foi levado à televisão, e agora sim, agora sabemos finalmente que a violência existe!

O pior é que isto não tem apenas a ver com uma aluna, ou com uma professora, ou com uma escola, ou com um estrato social.

Isto tem a ver com qualquer coisa de muito mais profundo e muito mais assustador.

Isto tem a ver com a espécie de geração que estamos a criar.

Há anos que as nossas crianças não são educadas por pessoas. Há anos que as nossas crianças são educadas por ecrãs.

E o vidro não cria empatia. A empatia só se cria se, diante dos nossos olhos, tivermos outros olhos, se tivermos um rosto humano.

E por isso as nossas crianças crescem sem emoções, crescem frias por dentro, sem um olhar para os outros que as rodeiam.

Durante anos, foram criadas na ilusão de que tudo lhes era permitido.

Durante anos, foram criadas na ilusão de que a vida era uma longa avenida de prazer, sem regras, sem leis, e que nada, absolutamente nada, dava trabalho.

E durante anos os pais e os professores foram deixando que isto acontecesse.

A aluna que agrediu esta professora (e onde estavam as auxiliares-não-sei-de-quê, que dantes se chamavam contínuas, que não deram por aquela barulheira e nem sequer se lembraram de abrir a porta da sala para ver o que se passava?) é a mesma que empurra um velho no autocarro, ou o insulta com palavrões de carroceiro (que me perdoem os carroceiros), ou espeta um gelado na cara de uma (outra) professora, e muitas outras coisas igualmente verdadeiras que se passam todos os dias.

A escola, hoje, serve para tudo menos para estudar.

A casa, hoje, serve para tudo menos para dar (as mínimas) noções de comportamento.

E eles vão continuando a viver, desumanizados, diante de um ecrã.

E nós deixamos.»

Alice Vieira, Escritora





Realmente... somos tão concentrados na nossa magnificidade que tudo o que não é nosso deixa de ter qualquer aspecto positivo. Incluíndo as gerações posteriores.
Pois, este tema das escolas está mais que mais que batido, é a realidade. Assim sendo não vou acrescentar o que quer que seja aos comentários acerca do mesmo. Mas não gostei, simplesmente não gostei de ler esta triste generalização.
As generalizações são isso mesmo, tristes. São pobres e carecem de personalidade.
São tristes, as generalizações. Não lamento ser dessa geração de ecrã, aliás, não lamento ser desta geração a que aqueles que dela não fazem parte já muito chamaram, mas que em nada são acertivos, pois cada tem entendimento da sua própria, e não doutra, geração. Se entendo a minha geração, realmente penso que não. Mas duvido que quem quer que seja a entenda se vier de espada em punho, qual templário atacando heresias.
Nascemos em tempos diferentes, ou será que agora também vêm contrariar a constatação de que "os tempos mudam"?
Nascemos em tempos diferentes, com exigências diferentes, com vivências completamente diferentes. Não podem exigir fornadas de gerações iguais às do início do século XX! Podem ter sido muito bons anos no que toca a existências, mas o tempo verbal é esse mesmo.
Provavelmente também direi daqui a uns anos que "antigamente é que era". Aliás, a diferença entre ter nascido dos finais dos 80, início dos 90, e o ter nascido meia dúzia de anos depois é incrível, e no entanto da mesma geração se trata.
Não se pode generalizar. E a minha geração do "Dragon Ball" que agora já é do "Ecrã", (diga-se de passagem que é uma geração que muda de nome de ano a ano, o que em 25 anos dá muito nome), é a geração que futuramente será a geração a governar e dirigir o país. Será que vamos fazer muito pior figura que a geração anterior, tão digna que é?
De alguém que pertence a uma geração jovem, por isso mesmo uma geração má; ou simplesmente de alguém que estava no estado "do contra", que será algo provável.