quarta-feira, 27 de junho de 2007

Não sei quem sou, que alma tenho.
Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo. Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe.
Sinto crenças que não tenho. Elevam-me ânsias que repudiu. A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me aponta traições de alma a um carácter que talvez eu não tenha, nem ela julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo.
Sou um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única central realidade que não está em nenhum e está em todos.
Como o panteísta se sente onda e astro e flor, eu sinto-me vários seres. Sinto-me viver vidas alheias, em mim, imcompletamente, como se o meu ser participasse de todos os homens, imcompletamente de cada, individuado por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço.

Fenando Pessoa - 1915






Tesouros inestimáveis. São palavras assim.
Tesouros são também as surpresas boas ou más: dão sabor à vida.
Resta saber o decorrer do enredo.


( 5 dias de coisas interessastes querem-se - muito! ^^ )