domingo, 12 de novembro de 2006

Não basta abrir a janela.

Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.

Álvaro de Campos









E isto diz tanto. Sei que sim.
Enquanto tiver filosofia, (não 'aquela' filosofia de quem tudo sabe), enquanto continuar a inventar filosofia,lembrar filosofia, citar filosofia.
Enquanto tanta coisa, tanta mesmo. Não vou viver. Sei que sim.
Alguma vês abrirei alguma janela? Sei que sabes que não.
Sei que sabes, e que eu mesma sei.
Mas talvez não saibas que gostava de abrir uma janela. Gostava de saber sorrir como tu.
Por enquanto fica o sonho 'do que se poderia ver se a janela se abrisse, que nunca é o que se vê quando se abre a janela' .




(Continuas a saber sorrir como só tu.)